Rubrica de Patrimoniomanias

Assinalamos na rubrica de Patrimoniomanias de janeiro as Guaritas da Praça Forte de Almeida, sua importância e função desde o século XVII até aos nossos dias.

Em primeiro lugar gostaríamos de salientar, que a quantidade de guaritas existentes em Almeida é hoje substancialmente menor do que originalmente, destaque-se que depois das derrocadas provocadas pelos cercos e posterior reconfiguração com recuo das linhas de canhoneiras, em cortinas, flancos e faces bombardeados um número significativo de guaritas desapareceu. No entanto as que subsistiram continuam a ser, no nosso entender um marco de artificio estético, graciosidade e movimento que merce especial destaque, pese embora, sejam também elementos de grande importância no balizamento estético da obra e para a compreensão do complexo de edificação.

Quantas são:

Na praça Forte de Almeida contamos presentemente de 18 guaritas, todas com o mesmo desenho cilíndrico e com tecto semi-esférico1. “São datadas do século XVII, designadamente nas frentes das Portas Magistrais de S. Francisco e de Santo António (de que apenas subsistem as que encimam a composição de cada pórtico) e nos baluartes de S. Pedro, de S. João de Deus e de Santa Bárbara, assim como dos séculos XVIII e XIX (neste caso, as duas referentes ao revelim de S. Francisco, no eixo da Porta Exterior e no vértice Sul).

Também naquela dúzia e meia se conta um exemplar executado no século XX pela Direcção-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, a meio da cortina da Horta do Governador, no lugar presumível de uma latrina projectada da muralha (em situação semelhante no ponto oposto da cortina do revelim do Paiol, de que restam elementos originais).”

Em menor número, assinalam-se alguns exemplares a meio de cortinas de muralhas (conjugando o princípio da ronda entre sentinelas que comunicavam por voz) e, no caso de Almeida, a singular disposição de uma guarita na composição

vertical do eixo de cada uma das faces externas das Portas Duplas. A adopção deste elemento no coroamento de cada frontão da Porta confirma a importância formal atribuída à guarita.

Assinala-se ainda que na Praça-forte de Almeida conserva-se um outro tipo de guarita, diferente do regular que assumem forma quadrangular com teto piramidal, na face interna da Porta Exterior de Santo António, naquele que é o atual CEAMA.

Existem registos de terem existido mais elementos deste tipo, não localizados no perímetro das muralhas (paiol do castelo, quartel de artilharia, e quartel de cavalaria), atualmente com vestígios na porta do baluarte do Trem ou Arsenal (Nossa Senhora das Brotas).

O que são Guaritas:

Guaritas são elementos de vigia que assinalam pontos sensíveis do traçado das fortificações (por norma em ângulos salientes do perímetro das muralhas), evidenciando-se em altura da horizontalidade dos componentes da arquitetura abaluartada e constituem-se elementos distintivos da estética do edificado.

As guaritas foram explicitamente tratadas nos Tratados de Arquitetura Militar, como bem o atesta o tratadista Luís Serrão Pimentel no “Método Lusitânico”2e quanto à localização diz o seguinte: “O sítio em que se acomodam é no ângulo flanqueado, nos dois espaldares e no meio da cortina, porque destes lugares fica a vista mais livre e desembaraçada, assim para descobrir os lugares distantes como também o fosso e o pé da muralha, e ficam aqui acomodadas, assim para perceberem os sinais que de fora lhe forem feitos, como para os dar.

Curiosidades:

Formas e configurações:

“A forma das guaritas é redonda, quadrada, pentagónica e hexagónica, segundo o gosto dos que as fabricam, cobertas por cima com suas meias-laranjas, ou

tectos que seguem os lados com seus remates em cima e galanterias que cada um capricha, variando nesta ou naquela forma.

Quando as fortificações são revestidas de muralhas de pedra e cal, costuma-se fazer as guaritas na mesma matéria (…). Porém isto é durável enquanto não há inimigo que ataque algum, ou alguns baluartes, pois com artilharia (se quiser) dará logo com as guaritas fora, perdendo-se o custo da sua fábrica e, muitas vezes, fazendo os pedaços dano na gente. Por esta razão outros as fazem de tijolo, para que o custo e perda sejam menores, pois tanto servem para o intento umas como outras.”

Sobre os vãos:

“Abrem-se nas guaritas três frestas, uma que olha direito para a campanha e duas para as ilhargas, para por ali se vigiar. Da parte interior se lhes faz a porta, para cuja serventia se abre (ou deixa na grossura do parapeito) um caminho de 2,5 ou 3 pés de largo.(…) “fazem-se, segundo Dilichio3, de 8 pés de altura interior e o diâmetro de sua largura de 5 ou 6. (…) sem falar na altura que sempre se deve entender ter que ser a que caiba um homem bem folgadamente e o que mais sobe ao tecto. Dilichio acrescenta-lhe um sino, para que os soldados em vigilância façam, de vez em quando, sinal de que estão despertos.