Patrimoniomanias II - Caminho de Ronda

Iniciamos a nossa rubrica Patrimoniomanias com o caminho coberto (circuito militar delimitado por um muro com banqueta para tiro de mosquete) da Fortaleza de Almeida, por se constituir um atributo singular cuja autenticidade ainda é um elemento digno de nota, agora, chamamos à atenção para outro atributo singular do perfil da fortaleza de Almeida: o caminho de ronda que corre a cortina dos baluartes, abrindo-se em frente à linha das canhoneiras, conservando ainda parte da sua extensão, datando da primeira fase da edificação da fortificação (meados do século XVII).

Onde se localiza?

Podemos percorrer o caminho de ronda e respetivas guaritas nos Baluartes desde o Baluarte de: Francisco passando pelo de São João de Deus, até ao Baluarte de Nossa Sra. das Brotas ou do Arsenal, chegando ao limite da Porta Interior de Santo António.

Pese embora descontinuado em vários pontos da muralha face aos assédios sofridos podemos ainda andarilhar pelos 165 m da cortina de Santo António (onde se insere a Magistral), ou pelos 4 lados do Baluarte de S. João de Deus perfazendo um somatório de 260m, ou pelos 265m da cortina virada ao revelim dos amores até cerca de metade do Baluarte de S. Francisco.

Mais sobre o caminho de ronda:

Esta solução, essencialmente atributo da arquitetura militar medieval e menos comum na fortificação abaluartada, o que faz deste especificamente uma peça de interesse superlativo “permitia que os defensores descobrissem, de cima, grande parte do fosso, defendendo com eficácia a muralha de assaltos surpresa com escadas (se se colocassem por detrás do parapeito dos canhões, só veriam o glacis), embora tivesse o inconveniente de o parapeito desse caminho ser facilmente destruído pela artilharia, quando o inimigo iniciava um assalto (razão pela qual foi terraplenado no cerco da Guerra dos Sete Anos).”

Chamamos particular atenção para o facto da inexistência do caminho de ronda nos restantes quatro baluartes que têm (total ou parcialmente) os paramentos das escarpas em terra, com obra de consolidação no fosso, situação que se deve aos assédios de 1762, 1810 optando-se por firmar os taludes, estabilizando os paramentos de pedra, tal como chegou aos nossos dias.

António Gaver faz uma descrição bastante detalhada da Praça de Almeida: Plano “de la Plaza de Almeida” levantado em Maio de 1763 (…)“murallas revestidas de arreglada y buena sillería con 3 toesas y 5 pies de alto desde el cordón (sobre el que corre un camino de rondas, que terraplenaron los enemigos en el recelo del sítio para dar más grueso al parapeto(…)”.